domingo, 8 de fevereiro de 2009

A Janela da frente - Renan Dias

Abri a janela, vi e reparei aquela senhora. Usava uma bengala para se locomover, arrastava os pés como se arrasta um saco de areia qualquer. Suas mãos e pernas tremiam por causa de uma simples brisa do entardecer, usava agasalhos por todo corpo como se estivesse em pleno inverno. Seu corpo não respondia da mesma forma, sua pele não era lisa e macia e, sim, assolada pelas rugas e cicatrizes adquiridas com tempo. Toda manhã sua enfermeira trazia seu coquetel de remédios, ela deve receber bem, pois precisava dela quase que para respirar.
Acordei em súbito. Gritos ecoavam pela rua. Logo em seguida o barulho da sirene invadia nossas casas. Pensei em ir lá fora, mas apenas abri a janela. Então vi, aquela senhora levada pela maca da ambulância. Era tarde demais. Os gritos de desespero da enfermeira anunciavam a nota de falecimento. Maria das Dores havia morrido, mas eu não lembrava seu nome, apenas a chamava de ´´senhora´´.
No dia seguinte, fui à janela. Tinha me esquecido de que a senhora não estava mais lá. O que vou fazer sem ela para observar ? Fechei a janela. E quando pensei em sair lá fora para ver o dia, estranhamente minhas pernas tremiam, estava coberta de agasalhos, não imaginava que sentia tanto frio, resolvi deitar. Já deitada pensava naquela senhora que era melhor ter partido. Ela sofria muito. De repente me deu uma vontade de ir ao banheiro, mas engraçado minhas pernas não respondiam pareciam estar adormecidas.
Foi quando eu cai em mim, e vi que no meu quarto tinha uma cama de hospital igual a que senhora usava, no criado-mudo tinha um botão escrito enfermeira, o que ? será ? não isso é uma piada, com um instinto de coragem e medo apertei o botão a espera de que nada ocorresse, mas saindo da sala, usando roupa clara e bem passada, cabelos loiros, pele lisa, olhos azuis como o daquela manhã:
---- Bom dia, minha senhora, já vi que suas pernas adormeceram novamente, espera que trarei o coquetel da manhã.
O que coquetel da manhã ? mas eu nunca bebi de manhã, esse coquetel deve ser bom, mas porque me chamara de senhora ?
----- Aqui está, minha flor ! Seus remédios.
----- O que remédios ? Não minha querida você deve estar enganada. Nunca precisei tomar remédios.
Aquela jovem colocou os remédios sobre o criado enquanto, uma luz forte vinha no meu olho. Era o reflexo da luz que vinha da bandeja. Assustei-me ao me ver refletida naquela bandeja de prata. Meu rosto não era o mesmo. Ao ver meu reflexo lembrei-me daquela senhora e, neste momento, meus olhos já cansados se fecharam.


2 comentários:

  1. Opa,

    gostei bastante! Palavras muito bem colocadas. É fácil imaginar a cena toda... Bom demais! :)

    abraço, Fernando Caixeta

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