quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Onde foi parar a minha juventude?

Arrependo-me de muita coisa que já fiz. Mas, o que, mas me arrependo foi de não ter assistido a vida com os olhos que tenho hoje. Percebi isto, a partir do momento que acordei hoje, e me vi num lugar totalmente inusitado.

Vi um terno lustroso e bem passado pendurado no armário, mas encontrei uma calcinha e roupas femininas espalhadas pelo quarto, e logo pensei, ´´será que virei veado?´´. Pensei que estava sonhando e tentei voltar a dormir, mas quando fui procurar mais espaço, observei um corpo do meu lado.

--- Quê isso? – levantei assustado

--- O quê foi, meu bem? – aquele corpo me dirigia a palavra com toda a intimidade.

--- O quê está acontecendo? Que lugar é este? Quem é você? – perguntava assustado

Desesperado corri para a primeira porta que encontrei. Era o banheiro, e lavei o rosto para acabar com aquele pesadelo. Ao me deparar com a minha imagem no espelho, descobri que não era mais um jovem, meu rosto não me mostrava isto, e sim um homem velho e cheio de rugas.

Renan Cerqueira Dias e Thiago Monteiro Machado

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Sim, eu a vi - Renan Dias

Foi quando eu a vi, vi sim aquela mulher estatelada no chão perto do esgoto seus pés marcados pelo tempo e pelas pedras das ruas, seu cabelo refletia um brilho obscuro, mostrando que ouro já foi colocado naquela cabeça, um vestido rosa, mas com sujeira das ruas já se tornava preto, é eu vi aquela mulher, tomando banho, sim eu a vi, mas ela não tinha xampu, não tinha banheiro, sim eu a vi, tomando banho, mas não tinha água limpa, ela tinha a água do esgoto para se limpar e uma sociedade para se consertar.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A Janela da frente - Renan Dias

Abri a janela, vi e reparei aquela senhora. Usava uma bengala para se locomover, arrastava os pés como se arrasta um saco de areia qualquer. Suas mãos e pernas tremiam por causa de uma simples brisa do entardecer, usava agasalhos por todo corpo como se estivesse em pleno inverno. Seu corpo não respondia da mesma forma, sua pele não era lisa e macia e, sim, assolada pelas rugas e cicatrizes adquiridas com tempo. Toda manhã sua enfermeira trazia seu coquetel de remédios, ela deve receber bem, pois precisava dela quase que para respirar.
Acordei em súbito. Gritos ecoavam pela rua. Logo em seguida o barulho da sirene invadia nossas casas. Pensei em ir lá fora, mas apenas abri a janela. Então vi, aquela senhora levada pela maca da ambulância. Era tarde demais. Os gritos de desespero da enfermeira anunciavam a nota de falecimento. Maria das Dores havia morrido, mas eu não lembrava seu nome, apenas a chamava de ´´senhora´´.
No dia seguinte, fui à janela. Tinha me esquecido de que a senhora não estava mais lá. O que vou fazer sem ela para observar ? Fechei a janela. E quando pensei em sair lá fora para ver o dia, estranhamente minhas pernas tremiam, estava coberta de agasalhos, não imaginava que sentia tanto frio, resolvi deitar. Já deitada pensava naquela senhora que era melhor ter partido. Ela sofria muito. De repente me deu uma vontade de ir ao banheiro, mas engraçado minhas pernas não respondiam pareciam estar adormecidas.
Foi quando eu cai em mim, e vi que no meu quarto tinha uma cama de hospital igual a que senhora usava, no criado-mudo tinha um botão escrito enfermeira, o que ? será ? não isso é uma piada, com um instinto de coragem e medo apertei o botão a espera de que nada ocorresse, mas saindo da sala, usando roupa clara e bem passada, cabelos loiros, pele lisa, olhos azuis como o daquela manhã:
---- Bom dia, minha senhora, já vi que suas pernas adormeceram novamente, espera que trarei o coquetel da manhã.
O que coquetel da manhã ? mas eu nunca bebi de manhã, esse coquetel deve ser bom, mas porque me chamara de senhora ?
----- Aqui está, minha flor ! Seus remédios.
----- O que remédios ? Não minha querida você deve estar enganada. Nunca precisei tomar remédios.
Aquela jovem colocou os remédios sobre o criado enquanto, uma luz forte vinha no meu olho. Era o reflexo da luz que vinha da bandeja. Assustei-me ao me ver refletida naquela bandeja de prata. Meu rosto não era o mesmo. Ao ver meu reflexo lembrei-me daquela senhora e, neste momento, meus olhos já cansados se fecharam.